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sábado, 27 de julho de 2013

Biomassa tem potencial para diversificar matriz energética

Rico em fontes de geração de energia por meio da biomassa, Brasil ainda carece de investimentos e tecnologias para desenvolver o setor.

A demanda mundial por energias renováveis aumentou no último ano, e quase metade do consumo foi atendido por fontes de biomassa tradicional, como combustão direta de madeira, carvão vegetal, resíduos agrícolas, entre outros. Estudo divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em parceria com a Escola de Administração e Finanças de Frankfurt indicou que foram investidos 244 milhões de dólares em energias renováveis no mundo em 2012. Países em desenvolvimento, como China, Brasil e países africanos, são citados como destaque nos investimentos e na geração de empregos no setor.

O Brasil se destaca mundialmente pela geração de energia renovável, principalmente devido à energia hidroelétrica, que responde por mais de 64% da produção nacional. Já a energia de biomassa corresponde a apenas 8% do total, ficando atrás ainda do gás e do petróleo, que, juntos, representam quase 16% da matriz energética.

Especialistas defendem que é preciso investir em tecnologias para diversificar o aproveitamento de resíduos da biomassa no país. A adoção deste tipo de energia ajuda a reduzir a pressão sobre as fontes tradicionais e também oferece um destino sustentável para resíduos agropecuários e urbanos.

Os setores sucroalcooleiro e de papel e celulose são os que melhor aproveitam os resíduos de biomassa, segundo Suani Teixeira Coelho, coordenadora Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio). "Eles conseguem aproveitar quase 100% dos resíduos gerados. Já nos setores madeireiro e de resíduos sólidos urbanos, ainda há muito potencial para expandir", comenta a pesquisadora.

Bagaço da cana

A principal fonte de energia através de resíduos da biomassa no Brasil é a cana-de-açúcar. De cada tonelada do produto, 250 kg é bagaco e outros 204 kg, palha e pontas. Tudo pode ser reaproveitado para geração de energia elétrica. "Em São Paulo, toda a colheita precisará ser mecânica a partir de 2014. Isto significa que deve ser aproveitado aproximadamente 98% da casca e folha, e a produção de energia deve aumentar entre 40% e 50%", destaca o vice-presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Leonardo Calabró.

Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a energia elétrica gerada pelas usinas beneficiadoras da planta é suficiente para atender a toda a demanda da produção de etanol e açúcar durante a safra. Das 370 usinas existentes, 160 também fornecem energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN). Juntas, elas levaram à rede 1.381 Megawatts (MW) médios em 2012, o que corresponde, por exemplo, a 45% do consumo de energia da cidade de São Paulo. A capacidade instalada dos resíduos da cana hoje é de 8.974 MW, ou 6,77% da produção nacional.

O Plano Decenal de Expansão de Energia do Ministério de Minas e Energia indica que, até 2021, o setor poderá oferecer ao SIN 10 Gigawatts (GW) médios, se todo o bagaço produzido for aproveitado. "Para estimular este incremento, tem que dobrar a produção e precisa de uma política setorial de longo prazo. Quando as primeiras usinas foram montadas, há 30/40 anos, elas foram equipadas com caldeiras de baixa pressão. Para ampliar a oferta de energia, é preciso trocar estes equipamentos", afirma Zilmar José de Souza, gerente de Bioeletricidade da Unica.

Expansão esbarra na falta de incentivo

Apesar de o Brasil ocupar uma posição de destaque mundial na geração de bioenergia, o país ainda está aquém de outras nações no que diz respeito ao aproveitamento dos resíduos da biomassa. "É necessário fazer muitas inovações neste setor, para garantir eficiência na geração", explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia José Dilcio Rocha.

De acordo com um estudo desenvolvido pelo Cenbio a pedido do governo alemão, o Brasil contava com 7.005.125 hectares de área plantada, em 2012. No documento com os resultados preliminares, apresentado em Berlim, em julho, os cientistas destacam que a produção de paletes (biomassa compactada), por exemplo, é incipiente e atinge a apenas 25% da capacidade total de produção.

O cenário de outras fontes energéticas, como a casca de arroz, é parecido. Hoje, existem no país nove usinas que transformam o resíduo em energia. Juntas, elas geram 36,4 MW de potência, ou seja, 0,03% da produção nacional. Coelho comenta que, se toda a capacidade instalada existente no Brasil fosse aproveitada, seria possível produzir cerca de 200 MW de potência.

Para a pesquisadora, isso só pode ser atingido com uma política de governo que amplie os investimentos e incentive a adoção de fontes alternativas de geração de energia por meio de biomassa. Ela sugere introduzir novas tecnologias e aumentar as ofertas de leilões específicos para este tipo de energia. Rocha ressalta ainda que, se implementar novos processos, a indústria pode ampliar a produção e também agregar valor aos resíduos agrícolas, agroindustriais e agroflorestais.

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